cheiro da morte
Se sente, o cheiro incoveniente ao vento, uma senhora armada, vestida com a sua capa, entre as ruas a caminhar, a colher, subtraindo, ceifando. Sem cansar
Arrebata a vida de conhecidos e estranhos, se ouve a voz do que é humano, chorando, lamentando, sem conseguir a vida segurar.
Ela, vem buscar os que foram assassinados, que tiveram seu sangue injustamente derramado, pelos que achavam ter o direito de matar.
Leva quem costumava ficar na calçada conversando, e subitamente estavam no quarto branco sufocando, "cadê oxigênio?" partiram sem conseguir respirar!
Também haviam os que cautelosamente estavam se cuidando, mas por imprudência de outros, mais corações pararam de funcionar.
E nesta exato momento enquanto você está lendo, a senhora cumpre o seu ofício, só vai levando, recolhendo, sem selecionar.
Já se pode ver de perto e de longe os números convertendo-se em nomes. Há famílias que jaz mais de um, e o que ocupa espaço é a ausência e a saudade de quem não voltará.
O luto é impetuoso, voraz e prolongado.
Para quê as máscaras?
Para previnir, para inibir?
Esse odor fétido, indesejado.
E para disfarçar o cheiro de sangue que corre no ar.