Riacho da Catingueira

É novembro, estou no sítio Riacho da Catingueira

E aqui respiro um ar triste

Em nenhuma terra paraibana existe

Sofrimento desta maneira!

As feras aqui me roem em um selvagem predatismo

E caminham bastardas e inglórias

Trafegam entre a matéria vil e figuras ilusórias

Fazendo, cotidianamente, um transformismo

Lembro do açude do meu batismo

Hoje, lá só tem lama de mangue

Na época, era farto... tomei banho de sangue

Dos cativos da época do quinhentismo!

Isto ainda me faz lembrar de Assis!

Um morador do sítio. Que em um dia de carnaval

Foi açoitado com um pau

Que estava nas mãos de uma meretriz.

Faz frio e é noite

Escuto uma, duas, três batidas

Devem ser as almas ardidas

Dos negros que sofriam açoites!

Vejo no chão uma carne que apodrece

É o corpo ou exoesqueleto de um inseto ?!

Não sei. Mas faz imaginar o meu último neto

Morto no chão e seu corpo em formato de "s"!

Acendo meu candieiro

E vejo vagalumes no teto

Olho para frente, vejo uma vela na mão do meu neto

E pergunto- Por que não me iluminaste primeiro?!-

Caminho pelo horto

Essa terra que piso aflige

Os construtores da Esfinge

E esconde os ossos de um trabalhador morto!

Cardoso de Figueiredo
Enviado por Cardoso de Figueiredo em 14/11/2019
Reeditado em 15/02/2020
Código do texto: T6795000
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