Carta para Amélia
Cachoeiro de Itapemirim, 20 de outubro de 2019.
Amélia,
Queria ser como você
Amar como você
Sorrir como você
Mas não sou
Não amo
Nem sorrio
Queria ter minha rotina em horas poéticas
Assumir minhas manias e estranhezas
Assim como você
Mas não a tenho
Não assumo, nem me reconheço
Que não sou como você
Queria ter o amor infantil que tens
Das paixões que se escorrem nelo chão
Das emoções que não são peles mortas
Mas não amo e talvez nunca tenha sequer amado
Meu amor de criança ficou no passado
O que restou foi a certeza de nunca amar como você
Queria colecionar pedras e devolver os brinquedos aos antigos jovens
Mudar a vida dos outros com viagens de duendes
Enfiar as mãos no saco de feijão e quebrar a casca do café
Mas coleciono rancores
Minhas viagens ocorrem dentro do meu quarto
É apenas tatio o peito vazio procurando por um coração partido
Amélia
Quando lhe conheci, não sabia do teu som
Quando te vi, chorei por uma noite
Por me lembrar de quem eu sou
Alguns bem diferente de ti
Logo você
Quem eu mais queria ser.