Prosopopeia
Quando as bocas já não se beijavam
E os corações conheciam apenas mágoas,
As roupas criaram pernas
E inúmeras feridas internas
Invadiram a casa; implacáveis águas.
Uma por uma iam saindo
De cada armário e gaveta
Cada calça e jaqueta
Escravas de mãos calejadas e frias.
E as malas iam chegando
Aos poucos, cheias de roupas molhadas
Por lágrimas de anos
Que desacreditam melhores dias.
E dele a casa ia ficando vazia
Ao passo que um cheiro de "nunca mais"
Misturado a frango de padaria
Tomavam conta do então castelo
Enquanto um sol muito amarelo
E solitário lhe fazia companhia.