Prosopopeia

Quando as bocas já não se beijavam

E os corações conheciam apenas mágoas,

As roupas criaram pernas

E inúmeras feridas internas

Invadiram a casa; implacáveis águas.

Uma por uma iam saindo

De cada armário e gaveta

Cada calça e jaqueta

Escravas de mãos calejadas e frias.

E as malas iam chegando

Aos poucos, cheias de roupas molhadas

Por lágrimas de anos

Que desacreditam melhores dias.

E dele a casa ia ficando vazia

Ao passo que um cheiro de "nunca mais"

Misturado a frango de padaria

Tomavam conta do então castelo

Enquanto um sol muito amarelo

E solitário lhe fazia companhia.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 14/09/2019
Reeditado em 14/01/2024
Código do texto: T6744835
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