Depois de você, é sobreviver...
Depois de você, é encarar a sobrevivência
É vermos dias se arrastarem sem perspectivas,
E saber que todas as certezas se tornaram dúvidas,
Pois os dias não passam de ocasos nublados.
Sobreviver depois de você tornou-se algo pecaminoso,
Depois de você, é renovar a esperança que o dia não amanhaça.
Depois de você não existe a dádiva do esquecimento,
E é doloroso o castigo permanente das nossas memórias,
Que se sobrepõe ao querer das lágrimas que queimam meu rosto.
Uma sobrevida que se arrasta como uma penitência eterna,
E faz parecerem vãs os lamentos de Álvares de Azevedo,
Depois de você, é sobreviver ao tempo que me é mesquinho.
Sobreviver depois de você tornou-se uma utópica arte.
E os versos que outrora afloravam cheios de vida
Ficaram escassos e dispersos como o vôo de um pássaro
Ferido longe do ninho seguro e acolhedor.
Depois de você, descobri um lugar seguro,
Onde as feridas nunca saram mas, ficam suportáveis.
Ao acordar viver tornou-se parte do sonho
E a sobrevivência é o pesadelo coroado pelas memórias,
E somente nelas é possível vislumbrar a ilusão de viver.
Viver é fantasia, delírio e a busca pra se chegar a algum lugar,
A desistência da busca é a passagem para a sobrevivência,
E o abandono dos sonhos com a certeza que viver não é mais vital...
Mas, sobreviver depois de você é preciso.
Fernando Alencar