CONFISSÕES EM CONFIDÊNCIA

Confesso. Agora, só o que posso fazer é confessar.

Não sou especial.

Sou como os outros. Os outros que tanto condeno por serem como são.

Sou como eles. Só que pior.

Mentiroso. Exagerado. Mesquinho.

Amorfo.Apodrecedor.

Rejeite a minha bondade. É veneno. A longo prazo mata.

Faz definhar cada pedaço.

Um por um até que nada mais sobre.

Fique longe!

Quantos crimes passionais ?

Quantas promessas ?

Quanta vida inteira juntos?

Tudo aos versos e ao passado. Ao inferno.

Sem álcool, sem drogas, sem prostitutas.

Sem noites de boemia cantando e sendo cantado.

Consigo ser como eles sóbrio.

Mesmo em casa no quarto.

Ainda que sozinho.

O amor? Nada sei sobre ele senão as mentiras que digo a seu respeito.

Não o conheço. Achei que conhecia. Pensei que éramos velhos companheiros.

Ele é estranho.

O que disse dele não é verdade, como não seria qualquer coisa que eu dissesse sobre subpartículas atômicas.

Isso que acho sentir agora é também mentira. Um arroubo. Retórica vazia e perdida.

Me diga que acabou e não me ofereça perdão.

Pode me deixar só.

Tenho que ser só. Não arrastarei ninguém comigo.

Deixe que eu chore pela noite por coisas que mesmo eu não entendo e não quero entender. Não importa.

Deixe eu e meus tormentos por olhar no espelho.

Eu e essa minha depressão.

E não me diga que vai ficar tudo bem. Sei que não vai. Não quero que fique. Também não importa.

Sei que esse buraco não tem fundo. Eu sou o que há de errado comigo.

Confesso. Agora, só o que posso fazer é confessar.

Uma coisa só resta, se é que resta alguma coisa. A dúvida: pular, sem ser visto, em um buraco onde ninguém encontrará o cadáver em putrefação com o vermes; ou misturar dioxina ao álcool.

A melhor parte e a prova definitiva de que tenho razão: não importa o que eu decida: não há ninguém para me impedir.

12. 12.2018.

Alexander Barbosa
Enviado por Alexander Barbosa em 01/09/2019
Código do texto: T6734412
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