INÉRCIA
sinto-me imóvel
calada em mim mesma
presa ao solo
de meu infértil sentir
deixo-me assim
sem reflexos nos olhos
sem a luz que um dia emiti
o sangue que pulsa em mim
é o pó que semeei
em dias férteis
hoje não aspiro a nada
pois tudo em mim expirou:
a vontade de sentir
o desejo de sorrir
são coisas tão distantes
estou há anos-luz
de quem fui um dia
perdi a ânsia de partir
a estrada que se movia em mim
ficou obstruída
não leva mais a lugar algum
tenho incêndios na garganta
vivo ocultando meus gritos
sem enxergar infinitos
vivo à margem de mim mesma
inerte, prostrada, caída,
um ser quase sem vida...