Só a passagem de ida.

Um estranho incomum avassala o peito

o peito inteiro com o cárcere alheio

envolto nesse pícaro eximio escritor

de palavras finas sem fundo ou ardor.

Gemidos prantos alcoólotras afogados

suspiros tantos sucumbidos pelo cigarro inalados

as lágrimas barradas em prosseguir por um ego infanto

sátiras a si mesmo restituem a cena num pensar insano

E no pico o pícaro enxuto persiste na dor da perda

sacado com um puxo o revólver que já viu centelha

um cigarro a beira do penasco é seu último desejo

o isqueiro apagado é seu fogo extinguindo existência

Sorte que é mais um covarde perante a foice afiada

o revólver à mão é só uma cena dramatizada

o penhasco e o cigarro, o elenco de sua tristeza

com o término do maço, só tem-lhe vaias com ódio e firmeza

Uma sístole afina mais forte

de longe, uma voz o envolve

ja sabia, mas não vira, não crê

o motivo da penumbra veio lhe ver

Sabe-se que era a paixão da vida dele

mas ele não mais raciocinava

então a senhora foice muito afiada

com uma escorregada, consegue a emboscada

Torto de tanto beber, fumar, pensar e sentir

agora caindo olhando o mais lindo céu a existir

as vaias transformam-se em aplausos e uma mulher chora

as palavras não saem mas os lábios emitem num último impulso

"Eu te amo" teria dito.

Mas não teve coragem de pronunciá-las

como covarde que mostrara durante a vida

como um homem que só comprara a passagem de ida.

FlávioDonasci
Enviado por FlávioDonasci em 04/09/2007
Reeditado em 16/09/2007
Código do texto: T637553
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.