Sonhos no fim do mundo

Eu disse uma palavra na escuridão

Os lábios desérticos murmurando mais pareciam buscar o ar inexistente

Tentava pensar em voz alta, tentava fazer meus pensamentos existirem

Pois não consigo transformá-los em ação.

Tudo o que eu fiz na vida foi abandonar coisas, ou deixar que elas me abandonassem

Em vez de escolher, fui arrancando minhas opções de mim, como pétalas

E ao puxar cada uma delas, dolorosamente, uma letra do meu nome sumia.

São tantas perdas a escolher quanto escolhas a perder

A única coisa que ganho são fantasmas do que poderia ter acontecido

E nunca a coisa em si.

Eu estou perdendo todos os meus poemas. Eles saem pela porta

Seria um pouco menos doloroso se eles me dissessem adeus.

Está ficando tarde, me deixe voltar para casa

Casa... que casa? Ela não existe mais

Se desfez gritando e se misturou à poeira das sombras de sonhos perdidos no fim do mundo

Esse mundo que levou a minha ação, o brilho morto de meus olhos, a minha respiração compassada

O ar é de pedra e as horas dobram o aço a cada segundo de fogo.

Mãe, você está aí?

Tem alguma coisa embaixo da cama que está comendo a minha vida

Ela morre de fome, mas sua paciência é como um mundo silencioso

Ela mastiga tão suavemente que por vezes acredito que está beijando a minha carne.

O tempo fincou suas raízes na minha face, ela envelhece

Enquanto o peito pesa com uma tonelada de feitos não realizados

Eu permiti isso.

Ontem o meu espelho apareceu rachado

Mostrei à minha mãe e ela disse: "é só o seu rosto"

E hoje encontrei pedaços do meu rosto espalhados pelo chão.

Eu lanço minha mão no vazio, esperando alguém, me guie por favor

Alguma coisa a pegou. Eu estou indo

Está acabando. Eu não tenho mais os meus medos

Pois são eles que têm a mim.

Lumontes (Lucas Montenegro)
Enviado por Lumontes (Lucas Montenegro) em 10/12/2017
Reeditado em 12/12/2017
Código do texto: T6194876
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