Do filho que não tivemos/teremos
Eu que ventre cru, intacto e árido
Quis ter um filho com você!
Eu que passiva, corri perigos pra te ver.
Eu que acostumada, sonhei
E nesse sonho só havia teus olhos.
Eu, com alma de poeta
Havia esquecido o que é amor
Havia amortecido minha paixão,
Havia me contentado
Com o sempre não.
Eu que após um beijo ébrio,
Aquele a caminho do mundo perdido.
Eu que após isso não fui mais a mesma,
Me rebelei de mim e me soltei na vastidão
Me joguei qual fosse livre
Qual estrela cadente na amplidão.
Eu, quem diria, sim, eu!
Eu que agora
Me recolho a minha insignificância...
Eu que não tenho mais futuro
Não com você. Não que tivesse antes.
Mas que agora enterro de vez a ânsia.
Que sepulto em jazigo herege
Meu primeiro e ultimo filho
Que nunca existiu nem virá a ser.
Sepulto com ele meus sonhos.
E volto a ser quem sou.
Poetisa sem amor,
Quieta
Só.
22/05/2017 - M.B