Do filho que não tivemos/teremos

Eu que ventre cru, intacto e árido

Quis ter um filho com você!

Eu que passiva, corri perigos pra te ver.

Eu que acostumada, sonhei

E nesse sonho só havia teus olhos.

Eu, com alma de poeta

Havia esquecido o que é amor

Havia amortecido minha paixão,

Havia me contentado

Com o sempre não.

Eu que após um beijo ébrio,

Aquele a caminho do mundo perdido.

Eu que após isso não fui mais a mesma,

Me rebelei de mim e me soltei na vastidão

Me joguei qual fosse livre

Qual estrela cadente na amplidão.

Eu, quem diria, sim, eu!

Eu que agora

Me recolho a minha insignificância...

Eu que não tenho mais futuro

Não com você. Não que tivesse antes.

Mas que agora enterro de vez a ânsia.

Que sepulto em jazigo herege

Meu primeiro e ultimo filho

Que nunca existiu nem virá a ser.

Sepulto com ele meus sonhos.

E volto a ser quem sou.

Poetisa sem amor,

Quieta

Só.

22/05/2017 - M.B

Camila Cabral
Enviado por Camila Cabral em 22/05/2017
Código do texto: T6006375
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