O Grito
Olho pros lados
Mas não enxergo nada
A tristeza é o meu jugo
O cansaço é o meu fardo
Sentimento não há
Quando, de onde havia de brotar
Mal é nascente, mas já secou
E a esperança, na foz se afogou
E o sal do mar da desgraça
A minha pele queimou
E queima, arde
Mas não vejo ferida
A chaga se abre
Nas entranhas da vida
No entra-e-sai das pessoas
Portas são batidas
E cada verdade cuspida
É rima a ser lida
Faz o verso chegar
Faz-me gritar
Regurgitar
E eu quero falar
Preciso falar
Senão fico louco
Prefiro rasgar a minha garganta
Com berros que me deixam rouco
Hão de expurgar-se do meu corpo
Como um gênese da loucura
Uma onda feita por lágrimas da solidão
Supernova
Explosão
Firmo, em versos ríspidos, o rito
Do exorcismo do meu grito
Na esperança que alguém me ouça
E traga a centelha de luz
Que me encontrará em meio a escuridão.