ENTRE GOTAS E PONTEIROS

Por intento do tempo

Intempestivamente

Temporal, tempestade

Perdi as medidas por desalento

E assim desatento

Anacrônico, não percebo quando a chuva finda

Sempre sem tempo

Sempre despedida

Sempre partida

Parte ida

E mesmo que de perto se pareça com um laço

É em verdade um nó que me engasga o peito

Desamarra as pontas das linhas

E descoordena o que eu faço

E mesmo que as lembranças não sejam só minhas

Coloco sob o as asas do tempo a cura dessas culpas

Me converto em culpa, em luta, em luto

E ante essas chagas atemporais emudeço

Entristeço

Reluto em recomeçar

Mas aos olhos alheios, viro do avesso

Enquanto isso contemplo

Tempo

Que passa

Que não retorna

Que não para

Que não perdoa

Mas que sempre acaba

Numa tempestuosa chuva que me afoga

Mas tenho forças ainda,

Abro a janela, ninguém lá fora

Apenas a triste caligrafia desses versos

Em papéis quebradiços

Em tintas descoradas

Que avidamente releio

Assim me conformo

Indiferente, alheio

Logo engulo temporariamente essas palavras

Que apenas traduzem

SILÊNCIO

I./J.