O FIM NUNCA ACABA
A tristeza
Dói
No jogo dos quadris.
Será sempre dor.
A não ser tristeza
Acabada.
Tristeza não finda
Tristeza é triste e só.
A não ser tristeza
Deixada.
Triste de quem é triste
Tristeza de uma só voz.
A não ser tristeza
Encerrada.
Tristeza machuca e despe
Tristeza fustiga e derrama
Triste de alma rachada
Triste de pés que sangram
A não ser de tristeza
Apagada.
Borracha não dá.
Nem mata-borrão.
Tristeza quer
Um pulso aberto
O pulo da janela
Um pescoço na corda
A faca no peito
Uma palavra doída
O gesto gelado
Uma troça da gente
O poço do fundo.
Tristeza – espeto
Tristeza – centelhas
Tristeza – sangria
Tristeza – tumular
Um tumulto
Afasta o coração dos olhos
Abranda o olhar do mundo
Desvia o princípio das coisas
Principia o fim dos tempos
O tempo não freia
A tristeza fica
A não ser que acorde
Acordar é uma dica
A quem escapa da sorte
A quem só deseja a morte
Melhor viver triste
Do que mal apunhalado.
Melhor nem viver
A ter que se apunhalar para sempre.