Insânia contemporânea
Fósforo usado, apagado,
bola esquecida no gramado,
pincel sem tinta e guardado.
Carro com o motor trancado,
silêncio de solidão, mau amado,
assassino preso, crime tramado.
Assim é a relação do homem
com o eterno, com o Ser maior.
Ao menor sinal divino, somem.
Embora seja individual,
a espiritualidade também
precisa de todos, porque é dual.
Contrariedade, rosto amarrado,
tempo quente, sem chuva, abafado,
cabra amofinado, sem voz, calado.
Vestido amassado, mau engomado,
horas que se foram, dia passado,
desamor triste, acabrunhado.
Seria natural e até normal
estar em consonância com o cosmos,
mas insistimos num balé letal.
Dois passos para a tragédia,
dois passos para o caos, próximos
e distantes de uma Idade Média.
Estilete que não corta, acabado,
prato sujo, emporcalhado,
observância esquecida, ódio tomado.
Campo abandonado, nada cultivado,
comprometimento extenuado,
vida que não volta, conhecer errado.