Crianças esquecidas
Na parte detrás
Em meio à rotina frenética
de trabalho, vaidades e
compromissos inadiáveis.
 
Mas, o afeto pode ser postergado.
Mas, o cuidado pode ser delegado.
Transferido e carimbado
pela negligência tóxica.
Regido pela pressa contemporânea.
 
Crianças esquecidas.
Infâncias engavetadas em
Creches ou em escolas período integral.
Responsabilidade delegada aos
familiares e cuidadoras semi-escravizadas
com a tutela absoluta de cuidado e afeto
e tudo mais.
 
Qual memória sabota os vínculos?
Rompe a barreira da dignidade
e  da compaixão?
Crianças esquecidas morrem
assadas, queimadas e asfixiadas
e, finalmente mortas
por insolação extrema.
 
Expostas à sua própria fragilidade e
ao azar de estarem bem
 no meio do caminho...
 
Bem no meio da vida
de gente tão ocupada e
sugada pela competição diária
de produzir mais,
de comandar, de ganhar

e, decidir para onde ir e quando chegar
ao pão... e, se embriagar
com o vinho 
anestésico
para aliviar o cansaço.

 
Não há lugar para atos falhos.
Não há lugar para atalhos.
Não há lugar para
os demasiadamente ocupados
Nem para o
s absolutamente
comprometidos

com meros laços familiares.

Os convênios absorventes.
Inerentes à condição humana.
Enredos construídos no ínterim
De uma atividade e outra.
 
Crianças esquecidas.
Abortos tardios.
Explícitos, ousados e
mordazes.
 
Coragem de esquecer.
E a tristeza da falta de
tempo para amar.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/12/2014
Código do texto: T5074420
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