Crianças esquecidas
Na parte detrás
Em meio à rotina frenética
de trabalho, vaidades e
compromissos inadiáveis.
Mas, o afeto pode ser postergado.
Mas, o cuidado pode ser delegado.
Transferido e carimbado
pela negligência tóxica.
Regido pela pressa contemporânea.
Crianças esquecidas.
Infâncias engavetadas em
Creches ou em escolas período integral.
Responsabilidade delegada aos
familiares e cuidadoras semi-escravizadas
com a tutela absoluta de cuidado e afeto
e tudo mais.
Qual memória sabota os vínculos?
Rompe a barreira da dignidade
e da compaixão?
Crianças esquecidas morrem
assadas, queimadas e asfixiadas
e, finalmente mortas
por insolação extrema.
Expostas à sua própria fragilidade e
ao azar de estarem bem
no meio do caminho...
Bem no meio da vida
de gente tão ocupada e
sugada pela competição diária
de produzir mais,
de comandar, de ganhar
e, decidir para onde ir e quando chegar
ao pão... e, se embriagar
com o vinho anestésico
para aliviar o cansaço.
Não há lugar para atos falhos.
Não há lugar para atalhos.
Não há lugar para
os demasiadamente ocupados
Nem para os absolutamente
comprometidos
com meros laços familiares.
Os convênios absorventes.
Inerentes à condição humana.
Enredos construídos no ínterim
De uma atividade e outra.
Crianças esquecidas.
Abortos tardios.
Explícitos, ousados e
mordazes.
Coragem de esquecer.
E a tristeza da falta de
tempo para amar.