Eis que é chegada a hora.
O momento crucial
de não mais existir.
Não respirar.
Não ofegar.
Não sofrer de dores múltiplas.
Não insistir em acreditar.
Não resistir 
contra inércia anestésica.

Eis que é chegada a hora.
Do desenlace.
De soltar as amarras.
E sair do cais, lentamente.
Tropegamente.
Com o vagar das ondas.
Com os ventos alisando 
nossos rostos.
Como se fossem as últimas carícias.

Eis que não é possível adiar.
Retardar os planos e as intenções.

Não há mais tempo para
beber o elixir da eternidade.
O eterno é passageiro e enganador.
São reticências.
Entrelinhas.
Significados cifrados 
em mensagens secretas.
São bordados sobre a pele
com a agulha da angústia.

Eis que precisamos ir.
Não se sabe para onde.
Não se sabe porquê.
Não se sabe de nada.

Há uma ignorância venenosa.
a circular pelas veias.
Há uma indecência discreta.
em nosso egoísmo tácito.

Escrever é forma de se 
despedir.
Dizer adeus com
aceno poético
de um lirismo bizarro.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/12/2014
Código do texto: T5071351
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