Esse saco de ossos e carne
com sentimentos, emoções e palavras
fonetizadas 
entre monólogos e diálogos.

Gestos pausados e
estratégicos.
Como o pulo suicida
no meio do abismo.

Trocando gás carbônico por oxigênio.
Enchendo os pulmões desse lirismo
disperso.
Repleto de fuligens 
Repleto de lembranças
decaídas e bêbadas 
nas esquinas paradoxais.

Dizem que é vida.
Mas duvido.
Por vezes é apenas a existência,
é o jazer grudado a um substrato,
é um pulsar inconsciente.

Que o tempo todo nos trai.
E os pensamentos flutuam
para além das nuvens.
E caem ao entardecer 
vermelhos de vergonha.

Esse saco de ossos e carne
moto contínuo de contradições
e paradoxos
de metáforas mirabolantes
e inflexões inverossímeis.
Que desenha o arco da promessa.
E une animais, vegetais e minerais

E na aliança vivente
sentimos a esperança
nos olhos das crianças,
no olhar pedinte dos vira-latas
no sorriso maroto da travessura.

E nos desvãos.
No espaço entre os trilhos do caminho.
Nos castelos de areia a desmoronar
diante da primeira onda.

E agitamos novamente o volume morto.
E nos damos a vida.
Com a mesma simplicidade que
matamos insetos.
E aspiramos pólens
sem ter direito a primavera interior.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/11/2014
Reeditado em 12/11/2014
Código do texto: T5023331
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