DESABAFO DA MEIA-NOITE

E hoje, engolindo palavras, venho escrever-te mais uma vez. Não que esteja descumprindo uma promessa, mas é que o mote dos meus textos não muda: você.

És como o golpe certeiro de um caçador na cabeça de um cervo qualquer. És como o gole final de um cantil num deserto escaldante. És, tu, como o último suspiro de quem está prestes a se afogar. Tu és a beira do abismo, minha querida, o abismo que eu sei que vou cair. E és assim por que não diferente quiseras ser... Gostas da atenção, mas mais, gostas de me ver sofrendo nos minutos mais ofegantes. Como elucubrou Dos Anjos, tu serias a ânsia análoga na boca de um cardíaco. Sei que, em futuro próximo, sempre sofrerei. Mas há, em mim, parte tamanha que ousa sonhar ao lado teu os sonhos mais bonitos que sonhei. Não sou merecedor de tantos sonhos, mas sonho porque hei de sonhar; assim como vivo, sem escolha, porque hei de viver. E sigo em frente porque tenho de seguir. Como uma obrigação imposta, não como escolha palpável. Assim é que se fecham as feridas... Mas a cada ferida, meu bem, resguardo em minha pele a marca e mesmo que cicatrize, em mim, marcas há, das quais ouso dizer que inapagáveis, ainda que eu as quisera fora de mim. Eu tenho planos inexequíveis e eles tenho botado goela a baixo, com a real intenção de jamais voltar a tentar. E você, meu bem, é o maior destes planos.