Dias a menos
Em plácido recanto, repouso inquieto,
Catre mórbido se faz labor,
Torvelinho de angústia a inflamar o peito,
Angustas teses, tempo desperdiçado!
Sórdido encanto desaba a face,
Sem mais, atônito, contemplo o nada,
O chão se faz esteira, o depois se faz rotina,
Olhos vitrais opacos e a vida uma cadeia!
Dias, mais dias, menos dias!
Noites, mais noites, longas noites!
Mais do mesmo, céu e sol despercebidos,
Em tudo, massa disforme.
Do útero à tumba;
Da escuridão ao claustro;
Do entorno que nutre, ao chão que o putrefato absorve;
Da luz primeva ao nascer, à última imagem fixada antes de morrer!
Rápido, o que foi deixou de ser,
O certo se prostra no vazio,
De instante em instante moribundo,
Décadas em segundos!
E a vida, interlúdio,
Esmagada, atarefada, atrasada!
No rastro do porvir, o passado, olvidado,
O presente, relegado!