JARDIM DE INVERNO
Não há ninguém no jardim
senão o inverno;
e suas brumas desveladas...
Um fantasma branco e frio...
que insiste em ficar até no rocio;
em suas gotas solitárias
sobre os ramos desnudos e trêmulos...
E até o jasmim
perdeu o brio
e secou as pétalas de cetim.
Não há ninguém no jardim
senão o vento;
e seu sopro gelado e cortante...
Um fantasma invisível e ligeiro...
que insiste em desnudar os galhos
e esconder as folhas pelos cantos
dos velhos muros...
E até o carmim
das flores e seu cheiro
anunciam o fim...
Não, não há ninguém no jardim,
pois essa é a hora
das folhas caídas, das flores secas...
a hora em que a terra despojou
do seu ser a ceifa d’ ouro
dos verdes anos... e a verdura
colhida jaz n’alma;
nos cálices do festim,
cujo vinho sábio derramou
em salmos de Querubim...
Mas como não há ninguém no jardim
resta-me colher o frio...
e cobertas pela névoa,
as flores brancas entre os canteiros;
os espinhos que me conduziram à dor, talvez...
E depois cruzar os caminhos medievais
carregando a dor da solidão aguda,
mas vestindo a pureza do marfim...
e a leveza dos mantos sobranceiros
caírem sobre mim...
( Imagem google)