Desistência


Desisti de lutar.
Guardei a espada.
Guardei o escudo.
Encarcerei a armadura
no armário.

Não quero ter escombros
como única herança.
Feridas incuráveis.
Mágoas infindas.

Fossas profundas a 
jorrar dor e angústia.

Desisti de lutar.
Entreguei meu corpo.
Pendurei minha alma.
No píncaro mais agudo.
A balançar-se ao relento.

Ao conhecer incertezas
profundamente.
Até que se transformem 
em certezas.

Desisti de informar
sobre o certo e o errado,
sobre o aqui e agora e
ainda, o depois...
Desisti de ser o canal
de notícias trágicas.

De ter tristezas a destilar
no orvalho da flor da cozinha.
Desisti.
Hoje e para sempre.
Morrem a guerreira,
a quimera
e a vaidade.

De ter vencido.
Ou ter sido vencedora.
De ter superado as expectativas.
Por ter que surpreender os viventes.
Por colher da boca
alheia  somente impropérios 

Desisti finalmente
E hoje, me apresento em silêncio.
Sob a censura da platéia.
Diante dos olhares atentos
e negligentes.

O que eles não sabem
que desistiram bem antes de mim.
Construiram um império de 
inércia e vileza.
Foram reis absolutos de toda 
vileza.

E, dormem ao invés de viverem.
Mas, hoje.
Finalmente desisti.
Somente para amanhã acordar
novamente
e desistir de desistir...

 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/05/2014
Reeditado em 18/05/2014
Código do texto: T4811280
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