Hoje a palavra é descartável.
Joguei fora a semântica,
destroçei a sintaxe,
abdiquei métrica
e da rima.
Expulsei a metáfora.

Hoje a palavra é descartável.
É uma embalagem tola.
Um embuste fonético vociferado por feras.

Hoje reina absoluto o silêncio.
O olhar posado no alpendre.
O semblante enigmático.
Contemplativo e passivo.

A desconfiança íntima de estar tudo errado.
De haver um segredo soturno em tudo.
Principalmente nesse momento.

Não há o que dizer.
Não o que fazer.
Só há sofrimento e dor.
Só há desesperança.
Saídas lacradas
em emergência contínua.


Hoje a palavra é descartável.
O sentimento fica sozinho num
canto qualquer da cabeça
a latejar feito enxaqueca.

E sem bússola
navega perdido no
triângulo das Bermudas.

Até sumir e deixar
vestígios poéticos
impunes.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/04/2014
Código do texto: T4782933
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