NÃO TENHO NADA

Só me restam minhas calças remendadas,

O meu céu, a lua e minhas estrelas,

Que não canso de vê-los,

Quando estou ao relento deitado.

Vaga-lumes que em revoadas,

Cercam meu corpo na noite escura,

Quando o verão é chegado,

Convidam-me para com eles brincar.

O sol que vejo nascer,

Quando acordo na alvorada,

Seca meu corpo do frio orvalho,

E com sua leve carícia me aquece.

Os meus bandos de pardais,

Que em revoadas buscam os galhos,

Brincando de esconde-esconde,

E procuram me divertir.

Estas folhas de jornais,

Que cobrem meu corpo na noite,

Logo se dissolvem na chuva,

E meu agasalho é a roupa quase em frangalhos.

As moedas que me dão ao estender as mãos,

Amanhã talvez não ouça seu tilintar,

E no lixo busco todas as sobras,

Para então saciar a minha fome.

Todas as folhas do outono,

Que vem trazidas pelo vento,

Fazem para mim uma passarela,

Onde piso para não machucar os pés.

Minhas sandálias furadas guiando meus passos,

Em andanças sem fim onde busco o horizonte,

São hoje pedaços que se dissolvem ao toque,

E pés descalços pisam o solo muitas vezes pedregoso.

20-01-2014.