MOLEQUE DE RUA

Perdi meus espaços na favela onde nasci,

Rejeitado que fui pela minha própria família,

E num desvario de uma criança sem rumo,

Busquei nas ruas caminhos que não quis.

Nas esquinas incomodo os passantes,

Estendendo minhas mãos pedindo esmolas,

Que são rejeitadas até com palavrões,

Mas não sabem que estou passando fome.

Busco então nos lixos restos de comida,

Pedaços de carnes já se deteriorando,

Mas que para mim são deliciosas iguarias,

Disputadas até por moscas varejeiras.

Ando sem rumo e nenhum horizonte vejo,

E no meu cansaço procuro uma sombra,

Sendo que busco água para saciar minha sede,

Em poças contaminadas que a chuva deixou.

Quando a noite vem chegando me assustando,

Procuro um abrigo num vão de um viaduto,

E como coberta restos de panos asquerosos,

Que algum morador de rua por ali deixou.

Pelo menos sou livre e posso até correr,

Em espaços onde na minha favela não existia,

Com o mísero barraco encostado num morro,

E como divisa o córrego de esgotos cheirando mal.

28-09-2013