Ceia
à disposição,
masoquismo disfarçado de compreensão.
você me olha,
mas não vê nada.
emudece perante minhas mãos atadas;
acreditas que meu sangue é vão?
o tempo me cobra,
o âmago me cobra:
o que fazes?
faço de mim uma espécie de ceia;
tão logo mato a tua fome,
me deixas...
adestrada,
dias depois sou procurada.
és tu, com tua fome
que não se compara
à minha. quando me clamas,
já estou definhando, faminta.
me chamas e eu volto.
eu volto, e volto.
vou com um sorriso,
pseudo-harmonia de alma,
desejos sofridos,
sou toda ouvidos;
mas há muito perdi a calma.
não poder escolher,
aos poucos me vejo encolher...
quando me despeço,
já sou outra.
e você, que se deita ao meu lado,
vai embora e não me vê.
não sentes o meu fardo.
teu silêncio ressoa descaso...
aparentemente,
sou muito pouca para o teu abraço.