SÚPLICA DE UM POETA
(Sócrates Di Lima)
Ainda, que eu ande solitário pelos desertos,
E o sol secando a minha pele morena,
Meus lábios rachando descobertos,
Não temerei a morte e nem me terei pena.
E ao olhar ao longe em olhar cego,
Oásis rodeado de palmeiras verdes,
Não beberei dessa miragem que carrego,
E nem morrerei de sedes.
Mesmo que a noite gelada sobre a areia,
Fugindo dos escorpiões e cobras,
Não me entregarei á tristeza que me rodeia,
Nem me alimento das sobras.
Ainda que os ventos bravios meu olhar cegue,
Permanecerei firme na minha caminhada,
A sombra solitária que me segue,
Será minha companheira de jornada.
E quando amanhecer o dia acinzentado,
E encontrar o portal do meu destino,
Saberei que não morri no meu deserto violentado,
Nem deixrei de ser poeta menino.
E quantas vezes mais serei incomprendido,
Por ser intempestivo e questionante,
Por ter tarefas incessantes que me faz retido,
No tempo de ir e vir de viajante.
E se sou um louco desvairado,
Que o amor me faz assim tão tenso,
Deus, apaga de minha alma todo o passado,
E me leva a outro mundo a que sou propenso.
E se a tristeza um dia me pegar,
Jogar-me no calabouço da solidão,
Com a lança da imortalidade venha me sangrar,
E arrancar-m do peito este bandido coração.
Deus, eu não sei amar de outro jeito,
Senão na entrega profunda e insana,
E que alguém me compreenda neste defeito,
Ou então tire de mim, esta condição humana.
E se um dia ocasionamente me fiz poeta,
E quis amar a qualquer preço,
A inveja do mundo hipócrita não me afeta,
Pois, sofrer por amor, eu não padeço.
Deus dos poetas loucos, diante das minhas incertezas,
E um dia a real felicidade me pacifica,
E deixe-me fora das mais vis tristezas,
Para que cesse de vez toda a mnha súplica.