MEUS ERROS
Regilene Rodrigues Neves
Cálice amargo de sangue
De um passado feito a ferro e fogo
Pela sobrevivência
As conseqüências rasgam
Por dentro minha existência
Pago meu livre-arbítrio
Nas escolhas dos meus erros
O corpo padece e a alma chora
Toda lágrima sentida
No lamento dos meus desenganos
Dói a vida num nascimento sôfrego
De uma mãe sofrida
Gestação e geração
Naquela barriga de rejeição
Vã tentativa de outros erros...
Mas quisera Deus
Fosse dona desta vida
Que das folhas de outono eu caísse
Mesmo que vivendo intimo inverno...
A felicidade sempre passando ao lado
E eu perdida no sofrimento do amor
Que a vida me negava
Passo a passo que eu dava...
Sobravam-me somente lições
Guardadas no coração
Sofrimentos somados no abandono
Da família... Alicerce construído das sombras...
Resquícios de mágoas pelo caminho
Rastros na areia construindo o tempo...
O amor perdurando
Nos espinhos fincados na alma
Nascendo de uma poesia frágil
Dos meus sentimentos!
Purgados lamentos
Fui abrindo estradas
Em algumas curvas me perdi
Na distância me separei do meu elo
Marcas do abandono
Fizeram-me renascer
Nada mais tinha a fazer...
Sobre os meus erros me refiz
Hoje mulher machucada por dentro
Somente o amor ainda me resta
Perdão crucificado num corpo marcado
Tropecei na inocência de um mundo interior
Embasei-me nas virtudes da minha mãe,
Colhi o melhor do pior de mim.
Mas a matéria sedenta e cheia de maculas
Sobrepuseram meus caminhos...
Heranças minhas tentei resgatar
Para não perder a ternura...
Meus erros hoje choro dentro de mim
Nunca perguntaram como sobrevivi
Se amor eu senti... Onde nasceram os meus erros...
De quantos escombros eu me reergui
A haste que finquei nas guerras dos meus mundos
De solidão e frio das noites dos medos dos meus fracassos...
Do corpo jogado nas calçadas da humilhação
Pelas mãos do meu semelhante
Sangue do meu sangue meus pais meus irmãos
Não ouço perdão só os gritos dos meus erros
Dentro de uma negra escuridão...
Meu espelho quebrado
O retrato dos meus pais
Numa imagem distorcida de amor
De um lado marcas de vícios numa cicatriz
Do outro o abandono pelos meus erros...
Nada fui nada sou
Quis ser o vento que me leva
Noutra direção rasgar a roupa da emoção
Que vestiu minha ilusão...
Voar nas asas de um pássaro poeta
Esquecer em alguma parte meus lamentos
De triste utopia...
Soprar sorrisos do meu verso de primavera
Aquecer-me do sol que nasce para todos
Derreter este inverno de um frio passado de dor
Voltar a ser amor
Na menina que cresceu e aprendeu
Que a vida pode renascer
Como a rosa que nasce em meio às pedras
Contrariando as leis da natureza
Porque dela vem advinda beleza que os olhos não vêem...
Metade de mim sem perdão
Outra metade sem direção
Sobrevoando ilhas
Terrenos áridos e desertos
De humanidade
A esperança partiu
Num trem sem destino
Somente o sabor
De uma despedida de reflexões
Dos meus erros
Jogados na cara
Como ladrão de nome
Quando meu nome perdera
Na escola dos homens...
Sinto esvaindo a vida
A guerra vencida na batalha perdida
Colhi flores de um jardim
Que plantei nas pedras
Na lápide gravada
A poesia de um pássaro poeta
Sobrevoou mundos de guerra e de paz
Colheu essências de amor para despedida
Brincou e sorriu emoções
Para que a lagrima não molhe
Todo um templo de poesia
Feito de devotos sentimentos
Fui coração... Mas me perdi na razão!
Porque ainda acredito no amor
Esse foi o maior dos meus erros
Respondo por ter tão somente amado
Amei mais que possível
Fiz o impossível para não me perder nos meus erros
Pois eles existiram porque amei demais
O amor sustentou minha vida
Que hoje cobra meus erros!
Em 02 de abril de 2007 – 21h08min.