Não é a droga não, mãe

Quando eu chegar meio louco

De olhar torto e estranho;

Por favor, mãe, me abrace

Me faça só tomar um banho;

Independente do olhar;

Vazio, sem nada dizer,

Talvez os olhos vermelhos

Seja de chorar por você.

Não é a droga não mãe, é a vida;

É o brilho da televisão;

É o meu pai que foi embora

A escassez de feijão;

É a mana se vendendo

Por um pedaço de pão,

É o português do mercado

Que desde que eu era pequeno

Me chamava de negrinho

E você diz que sou moreno.

É a indiferença do mundo, mãe,

Com pessoas como eu,

Cujo pecado é nascer feio,

Pobre, burro e filho seu.

Porque o seu Deus tão bonzinho,

Eu acho que me esqueceu;

E pras crianças branquinhas

Quanto presente ele deu?

Mãe, a droga me alivia

Como se fosse um carinho;

Me faz suportar o dia

E esquecer meu desalinho.

Mãe, a polícia me bate

Quando ainda eu não fumava;

Mais doída que sua peia, mãe,

Pois a sua eu perdoava;

Mãe. Me chamam de nego,

Vagabundo, marginal

Que venho do cu do mundo

Fazendo todo esse mal.

Dizem que não tenho jeito.

Só faço serviço de preto

E que nunca vou ser normal.

Mas quando você me abraça

O mal da tristeza toda passa

E brilha todo o quintal.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 25/05/2013
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