Não é a droga não, mãe
Quando eu chegar meio louco
De olhar torto e estranho;
Por favor, mãe, me abrace
Me faça só tomar um banho;
Independente do olhar;
Vazio, sem nada dizer,
Talvez os olhos vermelhos
Seja de chorar por você.
Não é a droga não mãe, é a vida;
É o brilho da televisão;
É o meu pai que foi embora
A escassez de feijão;
É a mana se vendendo
Por um pedaço de pão,
É o português do mercado
Que desde que eu era pequeno
Me chamava de negrinho
E você diz que sou moreno.
É a indiferença do mundo, mãe,
Com pessoas como eu,
Cujo pecado é nascer feio,
Pobre, burro e filho seu.
Porque o seu Deus tão bonzinho,
Eu acho que me esqueceu;
E pras crianças branquinhas
Quanto presente ele deu?
Mãe, a droga me alivia
Como se fosse um carinho;
Me faz suportar o dia
E esquecer meu desalinho.
Mãe, a polícia me bate
Quando ainda eu não fumava;
Mais doída que sua peia, mãe,
Pois a sua eu perdoava;
Mãe. Me chamam de nego,
Vagabundo, marginal
Que venho do cu do mundo
Fazendo todo esse mal.
Dizem que não tenho jeito.
Só faço serviço de preto
E que nunca vou ser normal.
Mas quando você me abraça
O mal da tristeza toda passa
E brilha todo o quintal.