Agonia
Respeito muito as lágrimas alheias;
Pois as minhas caem como folhas de outono
E ninguém vê, muito menos eu,
Com esses olhos embotados de sangue e suor.
Quando a noite pede revisão do dia,
Quando o açoite da peia vem à revelia,
A lida não dá arrego, só quer emprego;
O corpo queima de muitas vontades, cego;
A alma não, só quer descanso e sossego;
Sabe bem o quanto dói ser eu mesmo.
Quem achar que sou bom ou ruim
Vem aqui na minha tenda de madrugada,
Pode ver tudo ou pode ver nada.
Pois é mistura de alegria, paz e horror;
É hora do espírito brincar de esconde-esconde
E eu nem sei qual é o tamanho da minha dor.
Até tormento de gente aguda me diz que é amor.
O que significa essa natureza humana?
Essa coisa que me pede coisas insanas
Que até a minha própria lei vive a proibir?
Logo eu, pedaço de carne dura, madura...
Naturalmente medonha e, ao mesmo tempo,
Razoavelmente pura... insegura...
Ah.. Se pássaros de vidro viessem voando
E sorrateiramente comessem essas lágrimas;
Eu queria vê-las na transparência dos seus corpos,
Torturadas pelo ácido da bondade,
Dissipadas gota a gota em um habitat
Onde a essência da vida é comer e voar;
Onde o mal não sai da boca do homem,
Nem tampouco é possessão maldita.
Mas apenas instinto do bem, que mata para
Preservar a natureza própria vida.