Agonia

Respeito muito as lágrimas alheias;

Pois as minhas caem como folhas de outono

E ninguém vê, muito menos eu,

Com esses olhos embotados de sangue e suor.

Quando a noite pede revisão do dia,

Quando o açoite da peia vem à revelia,

A lida não dá arrego, só quer emprego;

O corpo queima de muitas vontades, cego;

A alma não, só quer descanso e sossego;

Sabe bem o quanto dói ser eu mesmo.

Quem achar que sou bom ou ruim

Vem aqui na minha tenda de madrugada,

Pode ver tudo ou pode ver nada.

Pois é mistura de alegria, paz e horror;

É hora do espírito brincar de esconde-esconde

E eu nem sei qual é o tamanho da minha dor.

Até tormento de gente aguda me diz que é amor.

O que significa essa natureza humana?

Essa coisa que me pede coisas insanas

Que até a minha própria lei vive a proibir?

Logo eu, pedaço de carne dura, madura...

Naturalmente medonha e, ao mesmo tempo,

Razoavelmente pura... insegura...

Ah.. Se pássaros de vidro viessem voando

E sorrateiramente comessem essas lágrimas;

Eu queria vê-las na transparência dos seus corpos,

Torturadas pelo ácido da bondade,

Dissipadas gota a gota em um habitat

Onde a essência da vida é comer e voar;

Onde o mal não sai da boca do homem,

Nem tampouco é possessão maldita.

Mas apenas instinto do bem, que mata para

Preservar a natureza própria vida.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 20/05/2013
Reeditado em 20/05/2013
Código do texto: T4299353
Classificação de conteúdo: seguro