Só de longe

De longe vejo o fim da estrada,

Que percorria para chegar em casa,

Trechos de ruas marcadas,

Árvores cortadas,

Casas abandonadas e pessoas em silêncio.

Trancados, os móveis enfeitam como o planejado

Cumprindo a sua função no cenário decorado.

De noite as luzes apagadas,

Nas casas despovoadas

Escondem as gotas de sangue lavadas pela chuva.

E, pela manhã, o sol seca as lágrimas

De escolhas falhas,

De fatalidades... involuntárias.

O homem acompanha de longe

O abrir de portas e janelas,

Rompendo a escuridão de dias de depressão.

As cadeiras querem ser sentadas,

As roupas, usadas,

As camas, deitadas,

As televisões, ligadas.

Mas, só de longe, o homem olha

A churrasqueira desligada,

Geladeira descongelada,

Chuveiro de água gelada.

Trabalhos e provas sem correção,

Fotografias nos álbuns,

Nos porta-retratos intactos,

Nos móveis empoeirados.

No chão, bichos mortos,

No banheiro, perfumes inacabados.

Só de longe, o homem olha

A menina tocando violão no quarto,

O som meio desafinado, as cordas velhas,

As luzes apagadas.

Só de longe, o homem olha

A menina deitada no chão do seu quarto

Jogando a bola para cima

E deixando cair as lágrimas dos olhos.

Só de longe o homem olha,

A mulher deitada na cama, só,

Na companhia de uma foto,

De um passado remoto,

De um presente sem cor.

Só de longe o homem olha

Um sonho acabado,

A hipocrisia

A incompetência

A falsa moralidade dos vivos.

Só de longe, o homem olha

A injustiça

O descaso

Os fingidos.

Só de longe, o homem olha

A tristeza

O amor

A distância dos sofridos.

Só de longe o homem olha

A descrença

O cansaço

Os vícios.

Só de longe, o homem volta

Nos pensamentos mais singelos

E na sua ausência faz lágrimas e sorrisos

Em dias de sacrifícios.

E, só de longe o homem olha,

A casa de uma alma,

Que agora se fez túmulo.

E, só de longe o homem olha

A partida dos seus amores

Para lugar nenhum.

E, só de longe o homem olha,

E, só de longe o homem sente,

Só de longe,

De bem longe,

De lugar algum,

O homem chora,

Perde os sentidos,

E fecha os olhos,

Fecha os olhos,

E dorme.

Tati dalat 18/03/2013

Tati Dalat
Enviado por Tati Dalat em 19/04/2013
Código do texto: T4249236
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