O que teus olhos não dizem
A maré rola entre quatro paredes
Não sei nadar
Colada na cama evito respirar,
o balançar das ondas causam náusea.
Agarro um fio d’água e remo à ilha distante...
Não sei mais o que me aguarda e morro sem expectativas.
Que fizeram com o mundo que cantava as cirandas infantis?
As mãozinhas entrelaçadas, olhos sorrindo, bocas se abrindo
Com trinados de pássaros, doces cantigas no ocaso
Barulhadas nas praças, pega-pega, cachorros latindo
Lá no fundo tem mãos estendidas, olhos piscam sentidos
Choram nas profundezas das águas, lágrimas dentro de lágrimas
Não são doces, nem salgadas... Simplesmente amargas...
As flores querem orvalhos, um regador de almas
... Como adentrar no desconhecido do teu eu?
Os que teus olhos dizem... Não sei e nunca irei saber.
Quem só via o belo nunca iria entender
Que nos teus sonhos não têm alamedas, apenas poços sem fundos.
Quem te criou nunca te viu, passou ao teu lado e não te descobriu...
Um ferimento se abriu, um ducto de sangue manchou o amor
Vidas esvaíram-se sem tempo de fazer diques
Romperam todas as represas
E mãos molham-se agora de prantos...
No céu que olham já não há pássaros,
As nuvens passam caladas
O sol está brilhando...
dentro da terra, jáz sorrisos inocentes
que clareava noites e dias
era a alegria... Nada mais que alegria...
Tem sempre alguém a esperar a hora
de morrer na aurora
de dias sem filhos sorrindo.