Sofrer – Eis a Questão
Sofro, por que sofro,
Porque sofrer é sentir
O que de mais simples é vida,
O que de mais vida é o amor.
Sofro, porque sofro o sentir,
Sofro, porque sinto o sentir,
Sofro, porque sentir é viver,
Sofro, porque o viver é sofrer.
Sofro porque amar é doer,
Sofro as desmedidas da alma,
Sofro as desmedidas das paixões,
Sofro, as desmedidas ilusões.
Sofro, minhas palavras ao vento,
Sofro, porque são meus desalentos,
Que voltam e como flechas me ferem,
A dor do mais profundo sofrimento.
Quem disse que amar é sofrer,
Disse a mais profunda verdade
Pois sabe Deus o mistério,
Da simples e pura felicidade.
No pranto é que nos lembramos dos risos,
Que leves embalavam o sono,
Na dor é que mensuramos os prazeres,
Que o tempo, em “Déjá vu” os levou.
Quem dera fosse tão fácil, assim,
Viver sem nada sofrer,
No sofrimento perpétuo,
O meu destino me fez.
Fui pré-moldado e soprado,
Por uma brisa divina,
Em originárias narinas,
O grande espírito zombou.
Assim nasci meio triste,
E meio triste vivi,
Nunca me lembrei de outras vidas,
Mas já sofri por tais quais.
Que seja pago da ira,
E dos pecados da carne,
Mas não divido meus carmas,
Porque são meus fardos laicos.
Não creio em tempos de outrora,
No meu perdão oferecido.
Sofrer é luto, é vida,
Na sua complexa loucura.
São, o alívio e a culpa,
O combustível da dor,
Que em lágrimas frias se tocam,
Num condenar quase humano.
De ser tão falho e promíscuo,
Com sentimentos perfeitos.
Que seja ódio ou desejo,
Que seja guerra ou paz.
Que seja simples vingança,
De um momento fugas,
Que já sofri nas lembranças,
Que em trilhas, fizeram caminhos.
Eu já sofri em conflitos,
Com minha clara ignorância.
Eu sofro pelo que digo,
Eu sofro quando me calo.
Eu sofro por falar demais,
Sofro por falar o de menos.
Sofro por que sofro o sofrer
Sofro os delírios do amor.
Sofro as decepções do prazer,
Sofro por fazer sofrer,
Sofro por não ser o que queria
Sofro pelo que não quis ser.
E assim sofrer é viver,
O que de mais feio é belo,
Do que mais simples prazer,
No sofrimento da carne.
Refletindo a cisma do espírito,
Como chuva se vai,
Caindo límpido em gotas,
Em arco íris se faz.
Mas como brava enxurrada,
Leva de tudo que encontra,
E no momento de glória,
Perde-se toda a vitória.
E simplesmente se encontra,
A dor da velha derrota,
Sofrendo a livre lembrança,
De ser tão preso ao presente.
O arrependido passado,
Que não deixou esperança,
Quebra-se como cristal,
O sonho de ainda criança.
Oh! — Me perdoe tão bela,
Tão fabulosa amapola,
Estes versos tão doídos,
Foi de joelhos cantado.
Eu sofro, o mais sofrido dos contos,
Em Shakespeariano ardor,
Por que não quis ser tão lúcido,
E lhe entender tal calor.
Oh! — Bela amada e perdida,
Flor em tão sonhada cantiga,
Não me perdoe as palavras,
Não me perdoe os desejos.
Não seja o que não quer ser,
Não se permita sofrer,
Não se permita viver,
O sofrer do meu bem querer.
Eu lhe devolvo a prece,
Eu lhe devolvo o sonho,
Que lhe tolhi tantas vezes,
Em revoadas insônias.
Tu não quiseste me ver,
Gritar, sem nada dizer,
Apenas tolices e neuras
De o meu sofrido viver.
Ah! — Quem me dera donzela,
Ser tudo que queria ser,
Ser nada do que não queria ser,
E te agradar até o meu último suspirar.
Ah! — Minha perplexa e complexa partitura,
Ludwiguiana sinfonia,
Queria ser todo sorrisos,
Refletido em teus olhar.
Oh!— Deus, me perdoe pelo meu furor,
Mas é dor, é pura dor,
Que me tira o sono a noite,
Que me fazer arder ao dia.
Não permita, Oh! — Allah, Odim, Kirio,
Ou quem quer que seja,
Que meus devaneios sejam levados na brisa,
Na cotidiana manhã de um dia sombrio.
Sofrer, Eterno sofrer.