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Obstinação

A dor não tem ouvidos e,
Abusadamente,
Usa dos meus 
Para ouvir seus absurdos...
A dor não tem boca,
Não tem dentes,
De que adianta
Desejar essa louca,
Mordiscar minha paz e,
Sufocar-me a garganta?

Ah a dor...
A dor não tem braços,
Não tem pés, e,
Estranhamente, me abraça...
Sem graça,
Passeia,
Serpenteia,
Parasiteia em meu ser...
Pulsa aqui,
Arranha ali,
Nida, sem pressa de ir embora...

A dor não é nervosa,
Mas teimosa, deveras...
Se bem quista
Ou mal vista,
Pouco lhe importa
Desavergonhadamente,
Intrusa, abusa...
Consome noites,
Devora dias...
Alimenta-se dos desassossegos
E nas angústias,
Se revigora...


A dor essa distinta andante, 
A migrar,
Feito vento errante,
Sopra onde lhe aprouver e,
Como tal, não sente,
É acorpórea,
Não prova do seu veneno, 
Seu mal, ignora... 
Mas...
Chegar ao coração,
Provocar vendaval,
É seu destino final...


 
Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 21/10/2012
Reeditado em 27/10/2012
Código do texto: T3944801
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