Menina pobreza
Descobri que a pobreza é uma menina
Velha, negra, gorda e feminina;
Se nas noites ela dorme brasileira,
Nas manhãs ela acorda nordestina.
Não mora só em favelas, nas ruínas,
Gosta muito de mansões e cocaína,
Tem gente que lhe adora e só conserva
Dinheiro, petulância e purpuina.
Dos meninos que ela pega ou que namora
Suga tudo o que há de bom e vai embora,
Não permite-lhes a chance de ser pobres,
Solta-os logo miseráveis mundo afora.
Ela dança nas cirandas sertanejas
Em suas paupérrimas linguagens ela sobeja,
Até na mente de mestres e doutores
Ela pode, se sacode inda peleja.
Quando mete o seu focinho nas escolas,
Rolam colas e cabeças, ora bolas;
Funda e afunda fundaçoes e até igrejas
Come o bem que há no homem toda hora.
É na riqueza que ela cresce e aparece
Disfarçada no dinheiro que apetece;
No vazio que há no ouro do tesouro
Cada um tem a pobreza que merece.