TRISTE SINA
Lá vai o sertanejo capinar a terra,
Tirando o mato para outro plantio,
Pois o que plantou não vingou as espigas,
Do milho que serviria como alimentos,
Para a família e os porquinhos do cercado.
O sol inclemente tudo matou.
Das espigas mirradas só sobraram sabugos,
E os grãos de milhos não vingaram,
Pois seus pés cresceram tão pequenos,
Sem forças para germinarem seus frutos.
Olha o céu límpido num azul estonteante,
Digno de ser reproduzido em aquarelas,
Por um hábil pintor que se encantaria com a cena,
Mas o sertanejo desejaria só ver nuvens escuras,
Prenúncios de chuvas que aguarda por dias e dias.
A mulher mirrada busca água em fétidos barreiros,
Percorrendo distâncias com pés descalços que se ferem,
E quando encontra uma poça no meio de terras calcinadas,
Enche sua lata pesada com a água suja e amarelada,
Pois sabe que tem filhos que tem sede e precisam comer.
Lembra que naquele local corria um rio de águas claras,
E seus filhos mergulhavam nos remansos até profundos,
Enquanto ela e o marido pescavam lambaris e tambiús,
Misturas que comiam com arroz, feijão e saladas.
Numa fartura que agora não existe diante das misérias.
Chega a mulher descalça com a lata na cabeça,
Poucas foram as gotas que se perderam no trajeto
E despeja o líquido na cabaça para aos poucos ir usando,
Fervendo para tirar as impurezas e aos filhos dar de beber.
Usando também para cozinhar o feijão ralo e a pouca mistura.
É assim a vida do sertanejo que sofre.
Planta as sementes aguardando a chuva tão preciosa,
Pedindo à Deus que venha regar as suas plantas,
E se existir colheita farta para encher seu paiol.
Tudo é motivo de festas e esquece então as desgraças.
30-04-2012