Ghost Bike
Manhã de Sexta-Feira fatídica...
O cenário é o cotidiano trânsito infernal, (em meio do qual nada se sente)
Orgulho da Pátria Amada, daquela metrópole desenvolvida, exigente e apressada;
Prenhe de gente portando contas urgentes, assuntos inadiáveis; mil compromissos a resgatar.
(A Laranja Mecânica moe seus filhos a conta-gotas - sem deixar necrosar a ferida)
Motoristas enlouquecidos, a defender, com unhas e dentes,
Seus horários apertados, seu espaço vital na Avenida,
Numa cidade que não pode parar.
O vírus não pode se alastrar...
Armada de capacete, vestindo suas inaceitáveis roupas coloridas
Intromete-se, a brisa da manhã acariciando seu rosto bonito,
Uma jovem e independente mulher;
A pilotar, em sua manhã derradeira no Caos, sua ameaçadora bike.
Como um libelo acusatório à incivilidade vigente;
Como um querer, naquele asfalto-iceberg, derreter corações de granito;
A ordem precisa ser restabelecida...
Naquele local sacrossanto, símbolo de tantas conquistas
Do status quo, um táxi foi o primeiro emissário
A deixar bem patente, com uma fechada precisa
Sua incompreensível, intransigente forma de vida.
Como se não bastasse, no coração da cidade, tamanha sanha homicida
Um ônibus, num caminho que não lhe pertencia, de pronto a abalroou:
E prá não se construir ciclovias, prá não gerar insuportáveis custos ao erário
Em seu trajeto de sempre, outro ônibus (desatento e legalmente) a assassinou
Com o posterior beneplácito das massas, em plena Avenida Paulista.
The End.
Terras de São Paulo, manhã de Segunda-Feira, Umbral do mês de Março de 2012,
João Bosco