Hora zero
É noite novamente,
maldita noite que invade o meu corpo.
Arrepia-me a carne
quando no meio da noite
eu acordo, e no meio do silêncio,
na escuridão vazia,
ouço bater um coração.
Coração que só de vez em quando bate.
Coração que fica sempre parado,
que não tem mais sangue.
Só de vez em quando é que pulsa.
De vez em quando,
lembra-se que ainda existe.
Vez em que o sangue gela!
Em nada mais penso na noite,
pois quando acordo
com o ruído do coração
eu sinto medo.
É que este coração só bate,
só pulsa num momento,
um momento antes do fim.
É quando o sangue gélido
começa a correr,
congelando todo o corpo
vidrando os olhos.
Em meu pensamento,
uma só ideia e um temor:
hoje é o dia zero do último mês,
hoje é o dia zero do ano zero,
o último dia da minha vida.