DESISTO

Na posse de um novo dia,
Um dia que te fazias,
Passavas leve na calçada,
Completamente distraída,
Que nem me viste nem nada,
Com a alma férvida,
Do lado oposto da via,
Caminhavas tão feliz da vida,
Tão cheia de esplendor,
Levavas no cabelo uma flor,
Que alguém te deste, talvez,
Que eu desisti da utopia,
Recolhi o lirismo, o amor.

Calei minha voz na solidez,
Em um gesto longo de dor.


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NÃO DESISTAS AGORA, POETA!

 Não desistas agora, poeta,
 Está tão próxima a meta
 E a estrada se faz curta e macia!
 Já foi tão dura e longa
 E tu soubeste encurtá-la
 Vestindo-a de poesia!
 O caminho era vasto,
 Imperfeito, irregular,
 Cheio de encruzilhadas,
 Espinhos, pedras aguçadas...
 Que tu soubeste lapidar!
A estrada está lá, não desistas,
 E não queiras ir por atalhos,
 Por caminhos inventados
 Por mais vezes o itinerário errarias!
A estrada é esta, vai agora,
 É este o reto caminho,
 Estou aqui, não estarás sozinho!
 Não desistas nesta hora,
 Vem à janela,
 Coloca o rosto para fora,
 Sente na pele o vento,
 Observa como a vida é bela
 Em cada nascer d´aurora,
 E este é o melhor momento,
 Pois tua vida se faz poema
 Perfumado de açucena!
 Não desistas agora!


(Ana Flor do Lácio)