Ausência

Uma mesa festiva de café da manhã; um casal nos olhos se olhando: um cenário há séculos freqüente.

Lá fora arrulhos de pombos, estrídulos cantos de bem-te-vis - e o vento, cúmplice, de leve soprando.

É quando, como uma um abutre em ataque certeiro, uma nódoa se interpõe de repente:

E lança, no meio do par em idílio a lembrança de um perdido filho – e a mulher, consternada, se prostra chorando.

Amor de mãe, amor exigente. Amor que não entende que seu amado rebento não mais pertence ao convívio das gentes

Que outros caminhos escolheu percorrer, abdicando, desde antes de nascer, impregnar-se de sonhos e de Luz.

Além da consciência da ausência, que em teu peito carregas, é outra ausência Mãe, que faz teu filho, de tua vida, um exilado freqüente:

É como um de si mesmo ausentar-se, uma fuga para o lado obscuro da vida - um matar-se constante que marejam de lágrimas os teus lindos olhos azuis.

Mãe, esse teu filho, que do ventre a Vida entregaste, não é mais o mesmo que em teus seios, enternecida, um dia nutriste.

Outros dias vieram Mãe, outras noites também; esses dias e noites, insensíveis, seqüestraram teu filho – assim como outros filhos de mães, como tu, igualmente se foram.

Dessas mães, umas em desgosto tragadas, com seus filhos tornaram-se das Sombras reféns, num desviver que só as retrata mais tristes.

Não tu, Mãe! Tu, que de amor és repleta. A Vida, essa vida que tens, compreende entrega completa; de chorar outros filhos as lágrimas de muitas mães já secaram...

Não te mates em vida Mãe, como fazem essas mães de amor exigente, que não entendem que os seus filhos vivem, de gosto próprio, morrendo dia após dia,

É certo Mãe, que é uma vida composta, majoritariamente, de morte e de agonia; uma vida desprovida de laços; sem algo que possamos chamar de sentimentos.

Todavia, ainda que sordidamente, é esse o viver que escolheram: quando chegam ao fundo do poço gritam por uma mão que os acuda - e logo depois recaem na afasia.

Mãe. Tu que amaste teu filho às escâncaras; tu (Quando infante ele sorria) não cabias em si de alegria prepara-te para vê-lo atirado em alguma sarjeta, alijado de qualquer mais-valia.

Ou, ainda pior Mãe: acautela-te contra o toque do telefone – de teu filho, à guisa de carta de alforria, ele será portador de uma má notícia a qualquer momento.

Terras de São Paulo, Tarde/Noite de Sábado, Lua Crescente de Setembro de 2011

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 10/09/2011
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