Vestindo as imagens

 
Não conheci as ruas
Tingidas de sangue e de morte
Dos morros suburbanos
Apesar de ter crescido tão perto delas
Não provei o desespero
De ver um irmão ou um amigo
Alvejado na cabeça ou no peito
Não sei medir a dor de uma mãe
Chorando um filho morto.

Mas hoje eu acordei com medo
E a minha vida
Tão pequena e simples
Vestiu as imagens...

Pensei então no meu sangue
E no sangue daqueles que são meus
Pensei na minha mãe
E nas mães daqueles que foram mortos
Pensei nos meninos da minha rua
E no quanto são tristes as suas historias.

Pensei..., pensei...
E a minha vida
Tão pequena e simples
Na velocidade cruel das ruas
Levada de beco em beco
Perdeu todas as cores...