Aquele homem

Sentado à cadeira vejo um homem.

Olhar distante, sem brilho.

Sem esperanças de reconquistar aquilo que perdeu.

Segura em suas mãos frias e trêmulas,

Um espelho.

Mas as imagens que se formaram estão retorcidas.

Como se meus olhos estivessem cobertos por lágrimas,

Gotas e mais gotas que ofuscaram minha visão.

E quanto mais me aproximo do homem,

Mais sua face se torna familiar.

Mas não vejo mais o ar de alegria que nos contagia,

Não vejo mais a vontade de querer seguir em frente.

Enxergo apenas o sofrimento de um coração partido.

Como se o caminho escolhido,

Não tivesse lhe dado opção de felicidade.

Onde está a expressão de menino alegre, brincalhão,

Que sempre podia-se ver no rosto daquele homem?

Quando vejo aquele homem,

Sentado àquela cadeira,

Segurando aquele espelho,

Sou tomado pelo espírito da aflição, angústia.

Desejo de voltar atrás e modificar o que foi feito.

Ah!, o tempo ...

Agora entendo o porquê de tamanha solidão e sofrimento.

E sentado à cadeira, vejo o homem em pedaços.

Fragmentados por sobre a mesa.

O sofrimento e a dor ainda não o abandonaram,

Mas ele segue em frente, sem lágrimas nos olhos.

Agora minha visão já não se ofusca mais.

Está clara como vidro, um espelho.

E me aproximando daquele homem,

Vejo minha face estampada em seu rosto, em pedaços.

Quebrado o espelho ele havia.

Então pude compreender.

Sentado àquela cadeira vejo que o homem sou eu,

Ou o que posso dizer que restou de mim.

Otávio Rocha
Enviado por Otávio Rocha em 24/05/2011
Reeditado em 17/06/2011
Código do texto: T2989950
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