AS FLORES
Eu amo nas flores o seu perfume
Quando aroma de sofrimento exalam
Vagueando a atmosfera assumem
Descontente odor da alvorada
Amo as flores que erguem ao pé da serra
De um vermelho sangue forte de dor
Rogam vida plena à primavera
Esquecidas sucumbem ao abismo de horror
Amo as flores que repousando à tumba
Celebram de terrível encanto o funeral
Descoram de dores e sepultam
Cadavérico jardim descomunal
Amo das flores o orvalho puro
Puro de uma cólera invejável
Como o câncer, destrói tudo
Secas flores de vida miserável
Eu amo nas flores sua beleza
Suas madeixas de um negro escárnio
N’amplidão duma campina amarga de delicadeza
Tombam altaneiras ao calvário
Amo nas flores a intensa alegria
A alegria de um tufão desalmado
Amo nas flores misteriosa magia
Degenerando admirador incauto
Amo das flores quando florescem
O desgosto de um profundo abrigo
Amo nas flores que padecem
Um coração que jamais foi ouvido