Cadáver Da Dor
Já cansado de sofrer
Vivo eternamente a querer,
Jamais sem ter,
O seu adorado terno olhar,
Nestes segundos preciosos
E indefinidos
Do fundo do meu ser.
Eternamente vivo ainda
Todas as dores sentidas,
Imbecil e lento
Como lesma,
Enquanto à minha volta
A tristeza é densa insuportável
Grandiosa.
Marcas do que sofri
Pela alma se espalham,
Pela alma se encontram,
Pela alma se assimilam,
Gastam e absorvem,
Mais e mais,
A fibra que me restava.
Nunca sofri como hoje,
Louco e racional,
Começo a sofrer e sofrer,
Sofrer com amor,
Sofrer com a dor,
Lutar com amor,
Mas cair na dor.
É necessário viver muito
Para ver o que o mundo é
E o que será,
O que fará comigo,
O que destruirá em mim,
O que levará de mim,
O que petrificará em mim.
Ergo-me mentalmente dessas dores,
Magoado e repulsivo,
Esteticamente improdutivo,
Supremacia da dor,
Dor que produz dor,
Dor que produz ardor,
Dor que produz amor.
Que dor é esta,
Que amada
E amada sinceramente,
Já desejo fora de mim como amor,
Como se o amor que nasce da dor
Fosse o mais lindo
E puro de todos?
Não,
Não é a dor que me sentencia
A derreter-me em lágrimas,
É o mais puro amor
Do amor imortal
Rasgado
Dos Céus aos Céus dos Céus!
Cristandades mortas,
Viajo pela dor,
Viajo pelo amor,
Pelos sofrimentos,
Mas nunca sou feliz,
Nunca sou praticamente feliz,
Por que tem que ser assim?
Vivo alegremente triste,
Vivo tristemente alegre,
Vivo solitariamente doente,
Vivo doentiamente solitário,
Vivo assim,
Vivo muito mais,
Vivo sem viver.
Sem viver
E cambaleante
Na magnitude da minha vida inútil,
Cadáver pela tristeza fico,
Cadáver pelo amor grito,
Cadáver pela solidão rio,
Cadáver pela dor choro.