Escuridão Inspirada

O sono nesta noite

Me escapa,

A inspiração

É-me mais clara no silêncio

Da Mãe Madrugada.

Todos dormem,

Todos dormem remoendo

Grandes angústias,

Infinitas dores,

Máscaras debaixo da cama.

Como todo bom mortal

Estou remoendo

Minhas próprias vicissitudes,

Meus reinos

De festas à fantasia,

As máscaras que possuo

Às luzes dos

Incansáveis dias inacabáveis

Pelos quais rastejo como

Um rei acabado cansado

Neste reino mundial de

Reis acabados cansados.

Quando tudo está assim,

Na mais amada Escuridão,

Apenas um cão ao longe

A latir vendo

O que não vemos,

O ponteiro do relógio

Movendo-se musicalmente,

Cantando cada segundo,

A Deusa Poesia

É O Sol Verdadeiro

Do meu Universo,

Da minha Criação,

Do meu Eu com emoção.

Alguns agora

Não estão dormindo

E eu sinto

O que esses alguns fazem

Sem precisar de mediunidade

Ou de espioná-los

Com olhos indignos.

Tais alguns

Celebram as suas carnes,

Grandiosidade de seres

Que talvez se amem

Ou talvez se esvaziem

Sem nada a oferecerem

A si mesmos

Mais do que um ao outro.

Não invejo os namorados,

Não invejo os casados,

Não invejo os amantes,

Que todos sejam

Muito felizes seres,

Vivam os seus amores,

Vivam as suas paixões,

Vivam os seus romances,

Casem-se em uma igreja,

Tenham seus filhos,

Envelheçam juntos

Ou depois separem-se,

Morram juntos

Ou distantes um do outro

Com um outro ao lado

Ou distantes um do outro

Sozinhos em um frio leito final.

Eu não invejo

Aquele que a toca,

Aquele que está agora

Com ela,

Uma que possui o nome

Entoado sempre

Por todos os Anjos Do Amor.

A Escuridão

Até ele me leva,

Eu me torno

O homem que desconheço

Tocando a

Mais conhecida mulher

De toda a minha alma.

Eu a toco,

Toco,

Toco...

Eu a beijo,

Beijo,

Beijo...

Eu vou embora,

Embora,

Embora...

Este momento não é meu,

É dele,

É dele,

É dele!

Ela é dele!

Ela,

Ela,

Merece estar com ele,

Seu namorado,

Seu noivo,

Seu marido,

Seu amante,

Que não sou eu,

Que não sou eu,

Que não sou eu,

Que é um outro homem...

Assim para mim,

Amigos,

São todas as noites

Nas quais

Não tenho sono

E a Escuridão inspira-me,

Inspirada como Ela É,

Ou a chorar muito

Ou a chorar pouco

Ou a escrever poemas

Ou a escrever histórias

Ou a não escrever nada

Ou a deitar

Em minha

Obtusa cama

E dormir como

Todo bom mortal.

Eu durmo muito,

Eu durmo pouco,

Com ela sonho,

Sonho com ela

Comigo,

Eu mesmo a tenho

Comigo!

Eu a

Toco,

Eu a

Beijo,

Eu a

Possuo

Nos sonhos,

Nos sonhos,

Nos sonhos!

Acordo...

É dia...

A Mãe Escuridão

Foi embora,

Ela foi embora,

Embora foi ela,

Aquela minha

Mais conhecida mulher

Que hoje é

Apenas sonho.

Oro para a noite voltar,

Ora para a Escuridão me inspirar,

Oro para com ela sonhar,

Sonhar com ela,

Que minha é nos sonhos

E daquele que desconheço

É nesta realidade nossa.

Escuridão,

Traga-a até mim.

Mãe Escuridão,

Traga-a até mim.

Deusa Escuridão,

Traga-a até mim.

Traga-a

Em sonhos,

Em sonhos,

Em sonhos...