DEIXA-ME A AURORA ENTERNECIDA
Sonhara com céus acinzentados
Torvas nuvens e carregadas
Teus protestos empedrados,
Tão perdida em tuas pegadas.
Enlanguecidos os meus braços
Pelo choque deste tranco vil,
Arrebata-me aos escassos
Argumentos para algum ardil.
E me apregoas morte moura
Que do peito fervente arqueja
E minha turva visão doura,
Por não ver a paz que tanto almeja.
Tu não pensavas n´outra coisa,
Senão nesta tua vil doença
Que te põe cega, perdida e doida
Para me impor esta sentença.
No silêncio da noite, absorto,
Nos muitos ditos e tropéis,
Meu pensamento tão morto,
Como na lixeira, os papéis.
Eu sou do trauma a punição,
Sou da tua vida, para-raio,
E tu da minha flor em vão,
Como se a vida fosse ensaio.
E nesta tua lúrida face
Que faz de mim teu sindicado
Como se eu usasse um disfarce
Ou vivesse dissimulado.
Não a mim, irás punir, não a mim!
Te dei só amor, te dei vida!
Se o fim buscas, terás então o fim,
Mas deixa-me a aurora enternecida!
(YEHORAM)