Amor, um funeral de corações
Não vês minha dama, quão lacrimoso são seus olhos
Como nebulosos estão as memórias de minha ventura.
Num leito decaído apoiada em podres e minguantes tijolos
Amante que me banha de ternura.
Teu seio mergulhado num musgoso e fétido concreto
Estático sem palpitação... Velando-me o gozo,
Protegendo entre sombras da luminosidade do céu aberto
Guardando-me, como moço.
Lágrimas caem em seus olhos... Assombrosa nuvem
Imunda meu leito, leve esta rosa em suas águas
Carregue entre seus lençóis para que os tempos consumem
Deixando as cinzas das magoas.
Mãos levantadas ao céu, num pedido de bênção
Magoadas e ambas gastadas, um palco onde um corvo canta
Gritos mórbidos, porteiro da noite para a lua esta canção,
Ou para esta que em meu leito é santa.
Oh rosa! A flor pálida que aos pés de minha dama dorme
Somente as cinzas, neste sepulcro de cimento ti espera
Ou junto às lágrimas das nuvens, que o solo imundo absorve
Levando-a ao fundo da terra.
Oh rosa! Flor pálida e lacrimosa... Não vê que vai embora...
Uma pétala de sua sombria e elegante harmonia
Aquela pétala que como distante pombo viaja muito agora
E espera a primavera em agonia.
Assim vai outra e outra... Daquela pálida flor apenas a lembrança
Que uma lágrima da chuva, para as profundezas levou.
Daquela que presenteou meu leito, resta apenas uma esperança
Que outra rosa ao menos guardou.
Tão castigado sorriso é desta que não me abandona
Nem mesmo esta borboleta em seu ombro esse sorriso faz animar.
Grãos caem no decorrer dos ventos, viajam longe de sua dona
Quanto resta para ele sangrar.
Oh minha amante... Silente sorriso petrificado
Que me guarda... A musa poética de meu calmo jardim.
Oh! Deitado em seus pés sinto-me com algo purificado
Se ao menos deitasse junto a mim.
E assim nossa eternidade prossegue... Num barco navegando
O tempo que ti corroeu a face sempre ti deixa mais bela.
Oh anjo de meu leito, com um vago olhar segue sonhando
Vagaremos nesta barca singela.