POBRE SONHO DE MENINO
Lembro-me da minha meninice,
dos amigos, pobres vizinhos,
do tão afamado Café Nice
e das rosas com espinhos.
Henrique, de pé no chão,
Túlio, o seu pequeno irmão
com os pés sujos de carvão
me ensinaram uma lição:
Que podre sociedade,
que despreza os pés no chão,
tanta indgnidade
morro de indignação.
Lá perto um carvoeiro,
usava meninos como escravos
do meio do nevoeiro
saiam todos cheios de cravos.
Vem ver tv em minha casa
já que na tua pobre casa não tem
vide novelas, triste me arrasa!
Somos vizinhos como ninguém.
Em tempos de ditadura
quando nem havia lei
que protegesse com bravura
aquele pobre Sidney.
Vi muita coisa, coisa e muita,
mas nada eu pude fazer
tem aquele que de mim cuida,
tem quem deixa acontecer.
Tem o impávido colosso
e quem roi livre o osso.
És a letra da tua canção,
és tu o que pesas a inspiração.
Lembro-me do meu cão
que se chamava sansão
do gato dentro do forro,
cujos passos ouvia-se do morro.
A porta ficava aberta
e não havia ali sequer ladrão
no frio saímos de coberta
naquela noite de São João.
Assim era a minha meninice,
dinheiro eu não tinha,
mas não quero chegar a velhice
longe da minha rainha.
E vou nesse lesto capital,
que me arrojava sobre a cabeça,
por ti vou nessa noite de Natal,
não que de mim isso careça.
Levo de presente o perú,
como fazia-se na minha infância;
o mais previsível menu
leva uma sinal de arrogância.
E ainda naquela casa modesta
que vivi tão inocente
via a paz tão manifesta,
como era pobre a minha gente!
Pobre sonho de menino
perdido do seio de seu pai
dos frios olhos do destino
que não decide para onde vai.
(YEHORAM)