Teu Brado

Brame enquanto dor te transcendentaliza,

sem deixares de crer nesta dor nobremente

e se revoltas impelem a oração que diviniza

eras de clarão vão guiar a multidão errante!

Os sentimentos são atalaias que conduzem

quem deles é cativo, nas mais ermas praias,

murmurando nas tristes vozes que rangem,

tão eloqüentes e capazes de rasgar cadeias!

Tu és pó da Terra, a própria negra algema

que muitos prende na malha da amargura,

filho de Deus contudo, da Magia suprema

inimaginável, que tudo pode e transfigura!

Brota no teu silencio choroso e d’esperança

o apelo magoado que pelo cosmo se balança,

açoita tal flecha de fogo o alvo monstruoso,

uma serpente vil,de sangue roxo tenebroso!

Manchas do sangue mau da guerra poluem

as mãos atadas à solidariedade merencória,

matando vida em vida e grandezas somem

em cada corpo frio que sucumbe em agonia!

Toda agonia que encontraste aqui na Terra,

não considere tua implacável perseguidora;

pondera,criaste a cobra qu'agora te enterra,

junto com cada irmão rendido pela espera!

O ser indiferente tem alma ferida assassina

porque é sacrilégio deixar que a vida escoa

pelo vão das esperanças como antiga usina

inoperante que a nada serve e nada povoa!

Brados ao vento, que ouvidos não ouvem,

o infinito gemido dos gemidos, sai do além

para ressurgir da lesma tal linda borboleta

dentro da dor a existência desolada palpita!

Santos-SP-03/10/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 03/10/2006
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