Porque choras criança?
Criança que choras,
diz-me, porque choras?
Sei que não queres responder,
mas vais-me já dizer
o que te afronta.
Não chores, criança,
que o choro é bonança
dos mais infelizes destinos.
É tão feio os meninos
chorarem! Vá!
Sei que não tens culpa,
mas...não é desculpa
para dares a um amigo.
Desabafa comigo.
Não chores mais.
Feriste o dedinho?!...
Falta-te carinho?!...
Foi teu pai que te castigou?!...
Mas...alguém te magoou?!...
Não!...Então fala.
Vá! Não tenhas medo.
Não te ponho um dedo.
Só dizes “não”?!...Porque te calas?
Calado não te ralas!...
Adivinhei?
“Não”, sempre “não”!...Diz:
não és tão feliz
como os passarinhos do céu?
O mundo é todo teu!
És livre...livre...
Tens pais que te zelam,
mil olhos te velam
de todo o perigo que corres.
De desvelo não morres!
Pensa bem...pensa...
Pudesse eu ser tu,
quer vestido ou nu,
ferido, odiado, infeliz,
risonho, adorado e feliz,
não choraria.
(10/02/1972)