O BANQUETE DO CARCARÁ
Gente se movimenta,
De manhã, lá no mato.
Trama e muito cálculo,
Prá nada sair errado...!
Depois, de um fósforo,
A centelha se espalha.
Labaredas de fazer medo,
Crepitar, ouve-se ao relento.
Depois, fumaça e brasa,
Silêncio de doer o coração.
Tudo destruído,
Era uma vez, uma Mata.
Cinzas e destruição,
Foi o que sobrou.
Corpos carbonizados,
Uma grande desolação.
Obra macabra:
Ratos, cobras, seriema esperta,
Ou vagaroso jabuti,
Morreram todos.
Porém, a vida teima em continuar,
Pássaros em revoada surgem no ar.
Vem, à carne da bicharada, aproveitar,
Na natureza, nada pode se desperdiçar.
Os carcarás vêm providenciar,
À limpeza da criação.
Das vítimas indefesas
De homens sem coração.
Ritual impressionante:
Bicos vermelhos e beligerantes,
Disputam os restos mortais.
Num espetáculo horripilante.
Perto dali, num carro monumental,
Alguém pensa no canavial:
Etanol, esse combustível infernal,
Que mata a Mata que restou do Brasil central!